Os ossos da cara doem. O milionário fato de neoprene que me equipa protege o meu corpo, as minhas mãos e pés já deixaram de ter sensibilidade durante a remada para fora, mas os ossos da minha cara... consigo sentir perfeitamente o limite das órbitas dos meus olhos e os meus malares. A pele que reveste a abóboda do meu crânio também deixou, misericordiosamente, de emitir sinais. Mas a minha cara dói.
A água é de um tom mais escuro que o céu e já perdi de vista o amigo com que entrei hoje no mar. Como diria o meu amigo Filipe, Ele hoje está zangado, o Mar.
Há cheiro a tempestade no ar mas o vento ainda não levantou.
Levanto a cabeça para o horizonte e ele mexe-se. Cá dentro, alguém derrama um líquido quente e frio que nasce na barriga e se espalha pelo corpo todo. O sangue ferve e gela à vez. Inspiro fundo e remo para a frente.
Às vezes, só te resta uma solução. Cerrar os dentes, inspirar fundo e remar. Para a frente. Porque em dias de tempestade, estás sempre, irremediavelmente, só.
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