quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

"I" é de incógnita

pondicherry 5 - three body parts of a sad elephant

Um dos clichés que mais gosto acerca da vida é que esta é uma guerra. Uma série de conflitos, sejam escaramuças ou batalhas caóticas. Tempestades de elementos. Conflitos.

Não digo que esta seja a descrição adequada para todos. Há quem consiga passar pelas armadilhas do seu percurso terrestre com a graça de um bailarino russo. Eu comporto-me muito mais como um grande elefante embriagado no meio de uma loja de cristais. Estabelecimernto que, por algum capricho, foi montado dentro de uma estufa.

Todos os ingredientes para o desastre estão lá. Ou, parafraseando o psiquiatra que seguia a senhora minha mãe -- e, que precisamente por isso, por conhecer a senhora, achou que seria bom ouvir-me-- : "Devo dizer-lhe que tendo em conta o que tem sido a sua vida, você é extraordinariamente equilibrado..."

Na altura, não percebi bem se era um elogio. Sobretudo porque o mesmo homem me disse, numa das poucas consultas a que me dignei aparecer: "Desculpe, mas você deve ser um grande chato".

De certa forma, acho que sim, que ele tem razão. Na parte do chato. Quanto à do "equilibrado", acho que as aspas que estou agora a utilizar para cercar a palavra também estavam lá expressas na parte do "tendo em conta...".

Se há coisa que não sou é equilibrado. Não sou, não posso, e detesto o conceito. Se calhar vem daí a chatice com que me rotulou. Não que seja um monólito, um cepo pouco brilhante e inanimado; pelo contrário: sou chato no sentido de nunca poderem contar comigo para nada. Isso sim, é uma chatice.

Irresponsável, inconstante, irritante, imaturo...se há letra que se adequa a mim é o "i". Mas não, não sou leitor desse jornal.

Não sei para onde vou ou o que faça. Estou preso na armadilha da minha própria Irresponsabilidade, obrigado a lidar com as consequências dos actos que Irreflectidamente perpetrei. Sim, Irremediavelmente Imaturo.

E agora... agora estou nas Tuas mãos. Não sei que mais fazer se não confiar numa transcendência qualquer que me proteja da imensidão da minha irresponsabilidade. Já confiei no Amor, no Dinheiro e em outros tantos deuses. Todos me falharam. Agora é a tua vez, o mais antigo, aquele ao qual me ensinaram a pedir desde muito novo. E eu que nunca fui de pedir nada a ninguém, já viste?

É que nunca suportei ver os meus pedidos recusados. Prefiro não pedir. E, durane anos, preferi não viver. Até que, quando me atrevi, armadilhei tudo.

E agora peço. Peço que me guies. Através das escaramuças desta guerra. Porque este elefante está velho e cansado. É que ter a proverbial memória do paquiderme cansa. E fere. Sobretudo quando se tem uma pele bem mais fina que o dito cujo e uma Incontornável atracção por lojas de cristais.

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