quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Correcções e tempos perdidos




Sou obrigado a fazer uma correcção ao texto anterior. Um tipo que parece apostado em irritar-me até conquistar um estatuto normalmente reservado a alguém que nascesse da minha mãe ou através da semente de meu pai, diz-me que, afinal, não falho. Diz que, quando dou por isso, que precisam de mim, estou lá. Pois, quando dou por isso...

Mas adiante. Parece que estou de volta. De volta à caneta. Mesmo que virtual. E sabe bem. Mas é um risco. Escrever sempre foi um escape, como, aliás, acho que para toda a gente que desenha letras sem a que isso seja obrigado. Mas é um truque arriscado, um caminhar na corda bamba.

Escrever sempre fez parte de mim, mas escrever para alguém ler sempre me soube um pouco àqueles sonhos em que caminhamos nus no meio da rua. Exponho-me demasiado e sofro de um pudor desmedido.

Claro que escrever profissionalmente nunca me fez corar. Tenho a pretensão de ter um domínio razoável da minha língua, pelo menos pré-acordos pornográficos...
Mas escrever, para mim, tem um dualidade paralela (especulo) à das prostitutas.

Profissionalmente, sou capaz das maiores cambalhotas com o despudor próprio de alguém que faz o que lhe pagam sem, de facto, lá estar.

Mas quando escrevo por prazer, é como sair da esquina, voltar a casa e despir-me para quem amo. É diferente e sou muito mais inseguro. Porque estou aqui. Algures, entre o casamento das sílabas e o entrelaçar da gramática, tu podes ver-me. Nu no meio desta rua de píxeis.

(Silêncio confrangedor enquanto tentamos apagar esta imagem das nossas mentes...)

Mas nem sequer foram os perigos deste número de circo perigosamente íntimo a que me proponho, que me afastaram do gozo da escrita. Não, acho que foi a saturação e a confusão. A busca incessante e esquizofrénica que faço de mim mesmo. Isso e a perigosa inércia que me rouba a noção de tempo. Do vosso tempo.

Ainda aqui há dias (uma semana, duas?), alguns amigos de infância, daqueles com quem já posso comparar as primeiras rugas, me acusaram de os ignorar há praticamente dois anos. Dois anos?! Impossível! Uma calúnia, um disparate, afinal foi no aniversário do fulano no sítio tal há...dois anos.

Onde ando eu? O que ando a fazer? É fácil perder-me e sinto que já me estou a perder aqui também. Tenho pouca noção do tempo. Do vivido e do perdido. E ele é tão curto. Se calhar, este espaço pode ser uma âncora. Eu preciso de um âncora que me prenda e me impeça de sair à deriva. E, ao mesmo tempo, detesto que me prendam.

Acho que sou um homem-jangada. Feito e desfeito de fragmentos e ansioso por sair à deriva mesmo sabendo que não tenho, de todo, a robustez para suportar mais uma tempestade.

Assim, vou ancorar aqui de quando em quando. E, para quem quiser entrar, aviso: faça-o por sua conta e risco. Se calhar, é como diz o meu amigo: eu não falho. Quando dou conta. E perco a conta muitas vezes.

2 comentários:

  1. Estou de sorriso nos lábios. É tão bom ler quem sabe escrever. E hoje em dia é tão raro.

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  2. Obrigado. Acho que todos nascemos para fazer pelo menos uma coisa bem. Eu é tagliatelle de marisco.

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